Debate em Almada leva mais longe a campanha pela adesão de Portugal ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares
A campanha do CPPC pela adesão de Portugal ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares teve expressão pública no dia 1 de Novembro, num debate realizado em Almada, antecedido de uma recolha pública de assinaturas para a petição, que resultou em largas dezenas de subscrições. Realizada num bar de uma concorrida zona da cidade, a sessão contou com as intervenções iniciais de Gustavo Carneiro, da direcção do CPPC, e Cláudia Dias, bailarina e coreógrafa almadense.
O dirigente do CPPC adiantou um conjunto de factos e dados relevantes acerca do tema da campanha, referindo-se nomeadamente à dimensão dos arsenais nucleares actualmente existentes e ao seu poderio destrutivo, à distribuição deste armamento pelos diversos países e ainda às dramáticas consequências de um eventual conflito nuclear, que poderia mesmo significar a extinção da humanidade. Gustavo Carneiro realçou ainda que a tensão que marca hoje a situação internacional dá mais força à urgência de erguer uma ampla movimentação para exigir o desarmamento nuclear, lembrando que noutros momentos a acção dos povos do mundo forçou a compromissos nesse sentido.
Referindo-se concretamente ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares, o activista do CPPC condenou a opção do Governo português em não aderir ao tratado, justificando-a com a integração do País numa «aliança militar», a NATO. Ora, destacou, a Constituição da República Portuguesa, «que qualquer governo tem a obrigação de respeitar e cumprir, consagra no seu artigo 7.º a exigência da “dissolução dos blocos político-militares” e defende o “desarmamento geral, simultâneo e controlado”. Ou seja, entre a NATO e o Tratado para a Proibição de Armas Nucleares, o Governo está obrigado a optar pelo segundo».
Já Cláudia Dias começou a sua intervenção por afirmar que «os artistas não são todos humanistas, nem democratas, nem pacifistas, muito menos pertencem a uma família alargada do que se convencionou ser de “esquerda”» e que a cultura não é, ao contrário do que muitos procura fazer crer, um «território isento de luta ideológica e de combate político». Desconstruir ideias niveladoras e inibidoras da existência de forças contrárias, dinâmicas e dialéticas na vida política e cultural é, em sua opinião, «uma das funções sociais da arte». A criadora, que tem em cena o espectáculo «Terça-feira: tudo o que é sólido dissolve-se no ar», sobre a opressão de que é vítima há 70 anos o povo da Palestina, garantiu ser necessário o crescente envolvimento de diversos sectores sociais, desde logo os artistas, na acção pela paz e o desarmamento.
No debate que se seguiu às intervenções iniciais estiveram em realce alguns dos temas candentes da situação internacional, como a pressão militar dos EUA e seus aliados junto às fronteiras russas e chinesas, a ingerência na Síria e na Venezuela e o bloqueio a Cuba, que nesse mesmo dia merecera uma vez mais o repúdio internacional, com 191 países a manifestarem-se pelo seu levantamento, com oposição isolada dos EUA e Israel. Na iniciativa deu-se ainda a conhecer a intenção de constituir a curto prazo, em Almada, uma comissão de apoio à petição, para a qual foi já assegurado o contributo de algumas personalidades com ligação ao movimento associativo, às escolas e ao sector da cultura.